O GEEMPA, Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação

As finalidades do GEEMPA são o estudo e a pesquisa para o desenvolvimento das ciências da educação, a realização de ações efetivas visando a melhoria da qualidade do ensino, junto a professores e técnicos que atuam na área educacional, assim como junto a autoridades responsáveis pelo planejamento e execução da política educacional e a formação e orientação de professores, técnicos e profissionais ligados à educação.
A tecnologia do Geempa implica em uma renovação metodológica profunda. Ela trabalha com um novo paradigma e requer atualização de parte dos professores, sobre os quais recai a principal responsabilidade do êxito do programa. Eles devem ser apoiados pelos supervisores, orientadores e coordenadores, que também são convocados a se formarem nesta metodologia.

As grandes diferenças entre a proposta pós-construtivista e outra são:

PÓS-CONSTRUTIVISTA

NÃO PÓS-CONSTRUTIVISTA

* o ensino se apóia no pensamento dos alunos

* o ensino se apóia nos conteúdos

* considera a aprendizagem um fenômeno social e organiza a interação na sala de aula através de pequenos grupos de alunos

* considera a aprendizagem um fato individual e estabelece relação entre professor x aluno

* aposta que todos podem aprender

* alguns alunos não podem aprender

* avalia durante o processo para planejar

* avalia como critério de classificação dos alunos

* o ritmo de aprendizagem é impresso pela tecnologia.

* o ritmo de aprendizagem é considerado individual a cada aluno

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Perguntas de criança... (Rubem Alves)

Há muita sabedoria pedagógica nos ditos populares. Como naquele que diz: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer ela a beber a água...” De fato: se a égua não estiver com sede ela não beberá água por mais que o seu dono a surre... Mas, se estiver com sede, ela, por vontade própria, tomará a iniciativa de ir até o ribeirão. Aplicado à educação: “É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer aprender...”
Às vezes eu penso que o que as escolas fazem com as crianças é tentar força-las a beber a água que elas não querem beber. Brunno Bettelheim, um dos maiores educadores do século passado, dizia que na escola os professores tentaram ensinar-lhe coisas que eles queriam ensinar mas que ele não queria aprender. Não aprendeu e, ainda por cima, ficou com raiva. Que as crianças querem aprender, disso não tenho a menor dúvida. Vocês devem ser lembrar do que escrevi, corrigindo a afirmação com que Aristóteles começa a sua “Metafísica”: “Todos os homens, enquanto crianças, têm, por natureza, desejo de conhecer...”
Mas, o que é que as crianças querem aprender? Pois, faz uns dias, recebi de uma professora, Edith Chacon Theodoro, uma carta digna de uma educadora e, anexada a ela, uma lista de perguntas que seus alunos haviam feito, espontaneamente. “Por que o mundo gira em torno dele e do sol? Por que a vida é justa com poucos e tão injusta com muitos? Por que o céu é azul? Quem foi que inventou o Português? Como foi que os homens e as mulheres chegaram a descobrir as letras e as sílabas? Como a explosão do Big Bang foi originada? Será que existe inferno? Como pode ter alguém que não goste de planta? Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Um cego sabe o que é uma cor? Se na Arca de Noé havia muitos animais selvagens, por que um não comeu o outro? Para onde vou depois de morrer? Por que eu adoro música e instrumentos musicais se ninguém na minha família toca nada? Por que sou nervoso? Por que há vento? Por que as pessoas boas morrem mais cedo? Por que a chuva cai em gotas e não tudo de uma vez?”
José Pacheco é um educador português. Ele é o diretor ( embora não aceite ser chamado de diretor, por razões que um dia vou explicar...) da Escola da Ponte, localizada na pequena cidade de Vila das Aves, ao norte de Portugal. É uma das escolas mais inteligentes que já visitei. Ela é inteligente porque leva muito mais a sério as perguntas que as crianças fazem do que as respostas que os programas querem fazê-las aprender. Pois ele me contou que, em tempos idos, quando ainda trabalhava numa outra escola, provocou os alunos a que escrevessem numa folha de papel as perguntas que provocavam a sua curiosidade e ficavam rolando dentro das suas cabeças, sem resposta. O resultado foi parecido com o que transcrevi acima. Entusiasmado com a inteligência das crianças – pois é nas perguntas que a inteligência se revela – resolveu fazer experiência parecida com os professores. Pediu-lhes que colocassem numa folha da papel as perguntas que gostariam de fazer. O resultado foi surpreendente: os professores só fizeram perguntas relativas aos conteúdos dos seus programas. Os professores de geografia fizeram perguntas sobre acidentes geográficos, os professores de português fizeram perguntas sobre gramática, os professores de história fizeram perguntas sobre fatos históricos, os professores de matemática propuseram problemas de matemática a serem resolvidos, e assim por diante.
O filósofo Ludwig Wittgenstein afirmou: “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. Minha versão popular: “as perguntas que fazemos revelam o ribeirão onde quero beber...” Leia de novo e vagarosamente as perguntas feitas pelos alunos. Você verá que elas revelam uma sede imensa de conhecimento! Os mundos das crianças são imensos! Sua sede não se mata bebendo a água de um mesmo ribeirão! Querem águas de rios, de lagos, de lagoas, de fontes, de minas, de chuva, de poças dágua... Já as perguntas dos professores revelam ( Perdão pela palavra que vou usar! É só uma metáfora, para fazer ligação com o ditado popular! ) éguas que perderam a curiosidade, felizes com as águas do ribeirão conhecido... Ribeirões diferentes as assustam, por medo de se afogarem... Perguntas falsas: os professores sabiam as respostas... Assim, elas nada revelavam do espanto que se tem quando se olha para o mundo com atenção. Eram apenas a repetição da mesma trilha batida que leva ao mesmo ribeirão...
Eu sempre me preocupei muito com aquilo que as escolas fazem com as crianças. Agora estou me preocupando com aquilo que as escolas fazem com os professores. Os professores que fizeram as perguntas já foram crianças; quando crianças, suas perguntas eram outras, seu mundo era outro...Foi a instituição “escola” que lhes ensinou a maneira certa de beber água: cada um no seu ribeirão... Mas as instituições são criações humanas. Podem ser mudadas. E, se forem mudadas, os professores aprenderão o prazer de beber de águas de outros ribeirões e voltarão a fazer as perguntas que faziam quando eram crianças.

Rubem Alves

domingo, 31 de outubro de 2010

Entre Aprendizagem e Desejo - Sara Pain

Entre Aprendizagem e Desejo

Conhecendo Sara Pain
Revista Scientific American - por Márcia Cristina de Oliveira Mello


Psicóloga e educadora argentina, hoje com 78 anos e em atividade chama atenção para importância de aspectos psicológicos da aprendizagem.

Formação acadêmica sólida, preocupação em valorizar o aluno como um agente do processo educacional e inquietações sociais - em um período em que eram pouco abordadas - fazem da argentina Sara Paín uma referência não apenas nas pesquisas sobre cognição, mas também nas discussões sobre formas mais eficientes de en­sinar, levando em conta aquele que aprende, sua forma de pensar e os desdobramentos da assimilação intelectual. Ela defendeu uma ideia que hoje pode parecer óbvia, mas há algumas décadas encontrava resistência: a necessidade de que professores conhecessem características e potenciali­dades dos alunos para melhor auxiliá-los. Sua considerável produção intelectual, voltada para a educação, é articulada principalmente com o materialismo histórico dialético e com as teorias de Jean Piaget e Sigrnund Freud. Algumas questões básicas norteiam seu trabalho. Entre elas: como concebemos o ser humano que nos propomos a educar e como concebemos seu pensamento.

Nascida em 1931, doutorou-se em filosofia pela Uni­versidade de Buenos Aires e em psicologia pelo Instituto de Epistemologia Genética de Genebra. Trabalhou como professora universitária, ministrando disciplinas relacio­nadas à psicologia, mas devido a sua posição política foi obrigada a exilar-se na França, país onde mora desde 1977, onde foi professora da Universidade de Paris XIII e da Faculdade de Psicologia, em Tolouse. Também as­sumiu o posto de assessora da Unesco para problemas de inteligência e aprendizagem.

Desde seus estudos no doutorado, na Suíça, ela se preocupou com as crianças que tinham dificuldade para acompanhar os colegas na sala de aula. Voltada a esse tema, estudou a constituição do sujeito, considerando a necessida­de do aluno se perceber como alguém que existe no mundo - e que aprender deve fazer sentido para ele. Paín sustenta que a apreensão e incorporação de informações não se produzem por impregnação, mas por uma ação dirigida ao aluno, oferecendo-lhe condições para que ele desenvolva suas próprias hipó­teses e construa o conhecimento. “A apropriação desse saber é natural nas crianças que não têm problemas de aprendizagem", afirma a psicóloga e educadora. Para ela, não basta o diagnós­tico dos problemas de aprendizagem, é preciso contar também com um psicodiagnóstico abrangente.

• Os quatro fatores

No livro Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem (lançado no Brasil pela Artmed, em 1985), Paín oferece importante contribuição aos psicopedagogos e professores. Ao conceituar o problema de aprendi­zagem como um sintoma que não se configura em um quadro permanen­te, a autora enumera quatro grupos de fatores que precisam ser levados em consideração no diagnóstico: orgânicos, ligados ao desenvolvimen­to geral da criança e sua qualidade de vida; específicos, relacionados a transtornos na área da adequação perceptivo-motora, psicógenos, que se constituem como inibição e defesa; ambientais, vinculados ao acesso do sujeito ao saber elaborado (científi­co) em seu meio.

Ao tratar do problema da apren­dizagem em uma perspectiva mul­tifatorial, Paín sustenta que todo diagnóstico é sempre uma hipótese inicial que precisa ser verificada em cada momento da relação com o aluno. Daí a importância de a família e a escola não enfatizarem as difi­culdades, pois muitas delas podem ser compensadas e superadas - já a supervalorização tende a reforçá-las como algo inerente ao aluno.

No campo da alfabetização o pensamento da educadora con­tribuiu para a compreensão dos motivos que levam muitas crianças ao fracasso na escolarização inicial. Dessa forma, desde os anos 80 alguns psicólogos, professores, psi­copedagogos e outros profissionais do ensino encontraram na teoria de Paín um referencial importante, es­pecialmente porque suas ideias dão conta das dimensões da objetividade e da subjetividade do pensamento do aluno que aprende ou não aprende.

Em 1989, Sara Paín escreveu que o professor precisa estimular o aluno à participação e ter tolerância em "períodos necessários de ensaio e confusão e aceitar comportamentos considerados errados, como reações próprias de uma etapa do processo de aprendizagem". A alfabetização, para ela, deve ser um momento de alegria - e, em grande parte, cabe ao professor propiciar esse ambiente na sala de aula.

Um dos pontos mais enfatiza­dos pela psicóloga - e uma de suas contribuições - é o de que a escola tem a importante função de favore­cer o desenvolvimento das crianças como pessoas autônomas, para que desenvolvam a capacidade afetiva e intelectual necessária à aquisição de conhecimentos. Para a autora, a escola precisa produzir uma didática fundamentada em conceitos científi­cos, que favoreça o aprendizado, in­dependentemente do grupo social ao qual cada aluno pertence.Ela acredita que o conhecimento deve ser proprie­dade de todos, mesmo daqueles com alguma dificuldade.

• Bem perto do Brasil

Hoje, aos 78 anos, Sara Paín participa com frequência de atividades acadêmicas e cientí­ficas na França, na Argentina e no Brasil, onde integrou projetos e atuou como consultora de instituições. Contribuiu no Grupo de Estudos sobre Educação e Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), em Porto Alegre; no Centro de Estudos Psicopedagógicos do Rio de Janeiro (Cererj); no Centro de Estudos Educacionais Vera Cruz (Cevec) e no Projeto Humanidades 2000, os dois últimos em São Paulo. Sua relação com os brasileiros se intensificou em 1991, com a realização de um evento em São Paulo, organizado pelo Núcleo de Estudos Sara Paín (Nesp), fundado um ano antes e coordenado pela psicóloga Sonia Maria B. A. Parente.

A aventura do conhecimento

Ao formular sua teoria, Sara Paín sustenta que há relações entre o desejo e o conhecimento, e que a capacidade de aprender está vinculada a quatro estru­turas fundamentais: o organismo, o corpo, a estrutura cognitiva ou a inteligência e a estrutura dramática. Tudo aquilo que nos permite funcionar equilibradamente faz parte do organismo. Além de fazer a regulação funcional de trocas com o meio, são inscritos esquemas perceptivo-motores e automatismos, o que é funda­mental para a aprendizagem, pois permite a aquisição de novos conhecimentos. A aprendizagem da leitura e da escrita, por exemplo, requer automatismos audiofônicos, gestuais e grafomotores. Paín assinala que o sistema neurológico deve estar completo e bem desenvolvido, caso contrário a aprendizagem será enfraquecida, porém nunca anulada. Como o organismo representa memória ativa, outras regulações orgânicas interferem no desempenho da criança: acuidade visual e acuidade auditiva, possibilidade de construção de coordenações reversíveis, audiovisuais e grafomotoras.

O corpo, na definição de Paín, é o centro em que ocorrem todas as coordenações percepto-motoras. Na aprendizagem, o corpo é ativo e ao mesmo tempo campo de ressonância das emoções e do prazer. Na aquisição da leitura e da escrita o corpo participa ativamente, e isso é observável nas estratégias usadas como ponto de referência, como seguir as palavras com o dedo, movimentar a pupila e a cabeça. Se a aprendizagem for significativa, o prazer de decifrar algo se desloca para o prazer da compreensão do texto e da atribuição de sentido a ele. E, para Paín, quando o aluno encontra um sentido naquilo que lê, descobre também uma fonte de afetos.

A inteligência tem estreita proximidade com as estruturas cognitivas, e as dificuldades da leitura (uma atividade inteligente) são dosadas pela capacidade global de compreensão e não pela falta de habilidade específica para o ato de ler. De acordo com a teoria de Jean Piaget, aprendemos porque temos mecanismos assimiladores à disposição para tal. Pela assimilação e acomodação um novo estímulo se converte em um esquema mais complexo que o anterior, e sucessivamente conteúdos cada vez mais complexos vão se tornando conhecimento.

A dimensão dramática está relacionada ao desejo, considerado uma re­presentação que ocupa o lugar da falta (só desejamos porque algo nos falta). Para Paín, inteligência e desejo complementam-se. Assim, é preciso haver um jogo dramático no processo de aquisição do conhecimento, em que o papel do professor deve ser proporcionar situações de aprendizagem nas quais o aluno possa aplicar uma série de estruturas lógicas para construir o conhecimento, como se essa fosse uma grande aventura. Paín observa que muitas crianças não aprendem a ler e a escrever no início da escolarização porque a leitura e a escrita não fazem parte do seu cotidiano; elas não têm motivo para aprender - e a não aprendizagem é o jeito que encontram para se defender de uma situação que Ihes parece estranha e às vezes invasiva.

sábado, 30 de outubro de 2010

DÁ CERTO

Nossos grupos áulicos foram formados na última quinta-feira. Foi um alvoroço. Nossa visitante, a Gabi, comentou que somos muito barulhentos (e ela é adoslecente!), o que me faz pensar nessa dinâmica, tão diferente, do trabalho do GEEMPA.
Essa quebra de paradigmas é realmente um passo difícil para a maioria de nós. Estamos acostumados a termos alunos "bem comportados" em nossas salas de aula, e quando não são, ficamos enlouquecidos e não conseguimos "dar aulas". Isso me faz lembrar as ideias de um amigo professor que diz que essa é a diferença: O ideal é não darmos aulas, e sim instigarmos a vontade de aprender. Nós não damos aulas no GEEMPA. Nós somos instigadores da curiosidade de aprender, da vontade de saber. E o melhor de tudo: DÁ CERTO!
Temos resultados maravilhosos com crianças que "o mundo" já havia desistido de ensinar. Temos depoimentos de desejos de aprender, de acreditar em si e no professor pela observação de que "DÁ CERTO".
Me emociono toda vez que vejo uma dessas histórias de fracasso na escola se tornar uma história de possibilidades de crescimento intelectual, e temos muitas dessas histórias no GEEMPA, graças a um trabalho sério de todos os que valentemente permaneceram lutando pela possibilidade de ensinar, sem medo de ser engolidos por algum “Rei dos Ogros” que já engoliu muitas professoras em sua sofrida vida estudantil. Parabéns aos quinze professores que acreditam que podem ser a diferença para muitos estudantes.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A PROFESSORA DONA FOFA

ERA UMA VEZ UM OGRO QUE ENGOLIU SETE PROFESSORAS, PORQUE NÃO QUERIA ESTUDAR.
A OITAVA PROFESSORA, CHAMADA DONA FOFA TINHA UM GOSTO MEDONHO. ELE A ENGOLIU, MAS VOMITOU.
ELA NÃO SE IMPRESSIONOU POR SER COMIDA E VOMITADA. ARRUMOU O CABELO E O VESTIDO, E DISSE:
- VAMOS À LIÇÃO.
ELA CONSEGUIU ENSINÁ-LO A LER E ESCREVER AS LETRAS E OS NÚMEROS, PORQUE NÃO TEVE MEDO DELE.
ELE ATÉ SE APAIXONOU POR ELA E PEDIU-A EM CASAMENTO, MAS DONA FOFA NÃO ACEITOU O PEDIDO. SUBIU EM SEU OMBRO, BEIJOU-O E FOI EMBORA.
O REI BUBA FICOU TRISTE, MAS DESCOBRIU NOS LIVROS UMA FORMA DE ESPANTAR A TRISTEZA E VOAR EM PENSAMENTO.